Lixão vira ameaça para 278 prefeitos
Prefeitos têm desafio de providenciar aterros sanitários que atendam
normas
Quando o assunto é lixo, quase
um terço das prefeituras mineiras tem a tarefa de cumprir em pouco mais de dois
anos o que não fizeram em décadas. Vence no início de agosto de 2014 o prazo
dado às cidades brasileiras pela Lei 12.305, para a eliminação completa dos
lixões e a construção de aterros sanitários. Os prefeitos de 278 municípios
mineiros que ainda não tomaram providências estão com a corda no pescoço. Para
se salvar, terão de se agarrar com unhas e dentes aos consórcios
intermunicipais, última chance dada pelos governos estadual e federal. Em
Minas, 50 deles estão em andamento para atender 469 municípios, mas as
diferenças sociais e políticas entre as localidades podem ser um entrave na
mesa de negociações.
A maior parte desses
consórcios está nas regiões Centro-Oeste, Vale do Rio Doce, Sul e Central. A
decisão é simples: o interessado tem recurso garantido das esferas estadual e
federal. Quem não quiser optar pelo modelo terá de caminhar com as próprias
pernas. A proposta, coordenada em Minas pela Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Regional e Política Urbana (Sedru), está em curso desde 2007.
Atualmente, 11 consórcios estão formatados, seis dos quais já funcionam, nas
cidades-polo de Itajubá (Sul do estado), Frutal (Triângulo Mineiro), Cristiano
Otoni e João Monlevade (Região Central), Betim (Região Metropolitana de Belo
Horizonte) e Janaúba (Norte de Minas).
Todo o recurso é proveniente
do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) dos Resíduos Sólidos, que ano
passado liberou R$ 7 milhões para a elaboração de projetos de empreendimentos
para tratamento e destinação de resíduos sólidos. A estrutura deverá ter aterro
sanitário, aterro de resíduos da construção civil, unidade de triagem, galpão
de triagem, estação de transbordo de resíduos domiciliares e ponto de entrega
voluntária de recicláveis. Mas esses pontos não precisam ser instalados no
mesmo espaço ou na mesma cidade.
Um município será eleito para
receber o aterro e o rejeito produzido pela população de todo o grupo. A ideia
de associar cidades é tornar o empreendimento economicamente interessante para
a iniciativa privada, que teria uma produção de resíduos em larga escala. Mas o
promotor Luciano Badini, coordenador do Centro de Apoio Operacional da
Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente, alerta para o fato de que a
iniciativa já nasce com desafios. “Há municípios onde a produção é basicamente
de lixo orgânico, justamente aquele de que não se pode ter aproveitamento
econômico, caso do Norte, Jequitinhonha e Noroeste de Minas. Será que as
empresas terão interesse nessas regiões cujo lixo é tão pobre?”, questiona.
Badini chama a atenção ainda
para as particularidades de cada cidade: “A lei nacional recomenda os
consórcios e, se houvesse um em cada região funcionando bem, seria o melhor dos
mundos. Mas há uma série de dificuldades que não são ambientais, mas locais e
paroquiais, que dificultam o acerto entre os municípios”.
Mas, como o tempo em que se
arrasta o problema já mostrou que o bom senso não faz parte da agenda política
ambiental, o incentivo financeiro é o grande estímulo para muitos prefeitos
aceitarem a construção dos aterros. Os municípios que participarem dos
consórcios terão um acréscimo de 10% na cota do ICMS ecológico. Já aqueles que
se dispuser a receber os resíduos sólidos receberão parcela com incremento de
30%.
MUDANÇA - Mais que atraídos pelo incentivo financeiro, os prefeitos
estão se mobilizando pelo medo das ações criminais e do fantasma da
inelegibilidade. A ameaça é resultado de mudança na estratégia que o MP manteve
há até três anos, quando entrava com ações civis públicas contra o município e
até conseguia decisões favoráveis, mas sem resultado. “Percebemos que as
cidades eram punidas duplamente. Primeiro, por não ter o tratamento adequado de
resíduos e, segundo, porque os prefeitos não executavam as obras e as multas
diárias aplicadas pela Justiça se tornavam volumosas, pois não eram quitadas”,
conta o promotor Luciano Badini. Por isso, as ações passaram a ser pessoais, ou
seja, a novidade desse ultimato é que o governo acionou o Ministério Público
(MP) para enquadrar pessoalmente gestores municipais que não resolverem o
problema. Os prefeitos podem agora responder por crime de poluição, segundo a
Lei de Crimes Ambientais, e por improbidade administrativa ambiental. “Já está
havendo uma mudança de postura”, adianta Badini.
COLAPSO - Em 2001, mais de 800 cidades mineiras não davam destino
correto aos detritos. A meta do programa Minas sem lixões era que, até o fim de
2011, o número caísse para 172, com 80% do estado livre da sujeira. Mas os
prefeitos não cumpriram o dever de casa. De acordo com a Fundação Estadual do
Meio Ambiente (Feam), vinculada à Semad, importantes municípios, como Montes
Claros (Norte de Minas), Governador Valadares (Leste) e Divinópolis
(Centro-Oeste), que juntos têm população de quase 1 milhão de habitantes, estão
entre os exemplos dessa realidade. Todas respondem a ações do MP.
“Não é mais possível suportar
essa situação. Estamos tentando resolver desde 2001 e o estado já fez tudo o
que podia. Falta vontade política e pressão popular. Vários municípios com mais
de 20 mil habitantes deveriam ter dado uma solução até setembro de 2010. Muitos
deles já foram multados”, afirma o gerente de Resíduos Sólidos Urbanos da Feam,
Francisco da Fonseca. Pelas regras do programa Minas sem lixões, as cidades
poderiam implantar aterros controlados de forma paliativa e, posteriormente, a estrutura
correta.
Mas é fácil constatar que
muitos ainda são lixões mal disfarçados. Prova disso é a lista da Feam, fechada
em 15 de dezembro do ano passado, por técnicos que fazem a fiscalização in
loco. “Alguns adotam o aterro controlado, mas não fazem a gestão correta e há
um retrocesso. Outros não tomam cuidados essenciais e, por isso, a
classificação não muda”, alerta Fonseca. Para pôr fim à novela, a aposta é
mudar a forma de cobrar providências: há até três anos, o MP entrava com ações
contra o município, ganhava, mas sem resultado. Agora, as ações são dirigidas à
pessoa do prefeito.
Municípios com lixões até 15 dez 2011: Abaeté, Açucena, Águas
Formosas, Águas Vermelhas, Aiuruoca, Albertina, Além Paraíba, Almenara,
Alpercata, Alto Caparaó, Alto Jequitibá, Alto Rio Doce, Alvarenga, Amparo da
Serra, Angelândia, Arantina, Araújos, Arcos, Areado, Aricanduva, Ataléia,
Augusto de Lima, Barão do Monte Alto, Barra Longa, Belmiro Braga, Berizal,
Bertópolis, Boa Esperança, Bocaina de Minas, Bocaiúva, Bom Despacho, Bom Jesus
do Galho, Bom Repouso, Bonfim, Bonito de Minas, Botelhos, Botumirim, Brasília
de Minas, Bueno Brandão, Buenópolis, Cachoeira de Pajeú, Caldas, Cambuquira,
Campanário, Campanha, Campina Verde,
Campo Azul, Campo do Meio, Campo Florido, Campos Gerais, Caparaó, Capelinha,
Capetinga, Capitão Enéias, Caraí, Carangola, Carmo de Minas, Carvalhópolis,
Carvalhos, Cássia, Cataguases, Catuji, Caxambu, Chácara, Chapada do Norte,
Chiador, Cipotânea, Claro dos Poções, Conceição de Ipanema, Conceição do Rio
Verde, Cônego Marinho, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Coqueiral, Coração de
Jesus, Cordisburgo, Corinto, Coroaci, Couto de Magalhães de Minas, Crisólita,
Cruzeiro da Fortaleza, Cruzília, Curvelo, Desterro de Entre-Rios, Divinópolis,
Dom Cavati, Dores de Campos, Douradoquara, Engenheiro Navarro, Entre-Folhas,
Esmeraldas, Espinosa, Estiva, Estrela do Sul, Estrela-dAlva, Fortuna de Minas,
Francisco Badaró, Francisco Dumont, Francisco Sá, Franciscópolis, Frei Gaspar,
Frei Inocêncio, Fronteira, Fronteira dos Vales, Galiléia, Governador Valadares,
Guaraciama, Guaranésia, Guaxupé, Heliodora, Icaraí de Minas, Ijaci,
Inconfidentes, Inhaúma, Ipaba, Ipiaçu, Ipuiúna, Itabira, Itabirinha, Itaguara, Itaipé,
Itamarandiba, Itamarati de Minas, Itanhomi, Itaobim, Itapecerica, Itaverava,
Jacinto, Jacutinga, Jaíba, Jampruca, Januária, Jequitaí, Jequitinhonha,
Jesuânia, Joaíma, Juramento, Lagoa dos Patos, Lajinha, Lambari, Lassance,
Lavras, Leopoldina, Lontra, Luislândia, Machacalis, Mamonas, Manga, Manhuaçu,
Maravilhas, Martins Soares, Matias Barbosa, Matipó, Medina, Mercês, Mesquita,
Mirabela, Miravânia, Montalvânia, Monte Azul, Monte Belo, Monte Formoso, Monte
Sião, Montes Claros, Morada Nova de Minas, Muriaé, Mutum, Natalândia, Natércia,
Nepomuceno, Nova Módica, Nova Serrana, Novo Cruzeiro, Olímpio Noronha, Ouro
Branco, Ouro Fino, Ouro Verde de Minas, Padre Carvalho, Padre Paraíso,
Palmópolis, Paraisópolis, Passa-Tempo, Patis, Patrocínio, Paula Cândido, Paulistas,
Pavão, Peçanha, Pedra Azul, Pedra do Anta, Pedra do Indaiá, Pedras de Maria da
Cruz, Perdões, Pescador, Piedade do Rio Grande, Pintópolis, Pitangui, Planura,
Pompéu, Ponte Nova, Ponto Chique, Porteirinha, Porto Firme, Pouso Alto,
Pratinha, Presidente Bernardes, Recreio, Reduto, Riacho dos Machados, Ribeirão
Vermelho, Rio Pardo de Minas, Rochedo de Minas, Romaria, Rubim, Sacramento,
Salto da Divisa, Santa Bárbara do Leste, Santa Cruz de Minas, Santa Cruz de
Salinas, Santa Helena de Minas, Santa Juliana, Santa Rita de Caldas, Santa Rita
de Jacutinga, Santana da Vargem, Santana de Pirapama, Santana do Manhuaçu,
Santo Antônio do Aventureiro, Santo Antônio do Jacinto, Santo Antônio do Monte,
Santo Antônio do Rio Abaixo, Santo Hipólito, São Francisco de Sales, São
Geraldo do Baixo, São Gonçalo do Sapucaí, São Gotardo, São João da Mata, São
João da Ponte, São João das Missões, São João Del Rei, São João do Oriente, São
João do Pacuí, São João do Paraíso, São José da Varginha, São José do
Mantimento, São Lourenço, São Romão, São Roque de Minas, São Sebastião da
Vargem Alegre, São Sebastião do Anta, São Sebastião do Maranhão, São Sebastião
do Oeste, São Sebastião do Paraíso, São Tiago, São Tomé das Letras,
Sapucaí-Mirim, Sem-Peixe, Senador Amaral, Senador Cortes, Senhora do Porto,
Sericita, Seritinga, Serra do Salitre, Serra dos Aimorés, Teófilo Otôni,
Tiradentes, Tocos do Moji, Tombos, Tumiritinga, Tupaciguara, Turmalina, Ubaí,
Ubaporanga, Unaí, Urucuia, Vargem Alegre, Varginha, Várzea da Palma,
Varzelândia.
Fonte: Jornal Estado de Minas.
Fonte: Jornal Estado de Minas.
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